Percorrer o caminho quaresmal, esses quarenta dias de graças superabundantes, é a preocupação de todo verdadeiro católico. Sempre de novo surge a pergunta: “Como poderei viver melhor a Quaresma este ano?”
Em uma carta de Quaresma do ano de 1962 aos membros da Opus Angelorum, nossa mãe Gabriele Bitterlich diz assim:
“Caminhemos, durante os dias santos da Quaresma, de mãos dadas com nossos grandes protetores celestes, pois, deste modo, caminharemos retamente. Eles nos conduzem, em primeiro lugar, logo após os dias da Quarta-feira de Cinzas, a um profundo recolhimento (Einkehr[1]) e a um profundo retorno à direção certa (Umkehr[2]). Pois devemos começar por nós mesmos, deixando que a Quaresma se torne uma santa transformação.”
Na Quarta-feira de Cinzas, a Igreja nos recorda que somos pó e que ao pó haveremos de voltar. Essa exortação é, ao mesmo tempo, um chamado e uma advertência a todos nós, cristãos. Um chamado, pois nos convida a reconhecer que somos “nada” sem Deus e que viemos do poder de suas mãos criadoras. Viemos do nada, do pó. Uma advertência, pois para o pó voltaremos, isto é, para o nada. Se não nos convertermos e se não deixarmos que a vida divina penetre em nós, de modo a transformar esse pó novamente em vida[3], permaneceremos no pó da eternidade, que é o inferno.
O tempo da Quaresma é um caminho que se inicia na Quarta-feira de Cinzas e que vai até a manhã do Domingo de Páscoa. Como todo caminho, é preciso saber por onde se deve andar e como andar, a fim de chegar a tempo ao destino, sem sofrer qualquer dano. Por isso, faz-se necessária a ajuda de um guia experiente. Esse guia, ou melhor, esses guias são os Santos Anjos.
Os Santos Anjos querem que nos abramos e aceitemos sua ajuda. Deus os envia para que nos auxiliem em todos os tempos litúrgicos. No tempo da Quaresma, eles se voltam a nós para dispensar as graças próprias da penitência, da contrição e da conversão. A partir dessas três graças, reviveremos para uma vida sincera e autêntica diante de Deus.
O caminho quaresmal, que nós, homens, percorremos à imitação do Senhor, é também uma via angélica, pois se volta para servir a Deus de todo o coração e, nela, aprendemos a reconhecer, como os Santos Anjos reconheceram em sua provação, que ninguém é maior do que Deus: “Quem é como Deus?” – São Miguel Arcanjo.
Deixemos, pois, que os Santos Anjos segurem nossas mãos e inflamem nossos corações, para que façamos um bom caminho quaresmal até a manhã esperançosa da Páscoa, onde o Senhor nos espera, triunfante e glorioso, com o Coração Ardente de anseio por nós, que nos deixamos guiar, docilmente, pelos Seus Santos Anjos. Amém.
[1] A palavra “Einkehr” em alemão seria um voltar-se para dentro, um recolhimento. Ver algo que está dentro de nós e analisar nossa consciência.
[2] A palavra “Umkehr” em alemão está ligada com um retorno. Não é uma conversão, mas uma atitude de voltar para a direção certa, pois, ao longo do ano, podemos ter nos desviado, seguindo caminhos tortuosos.
[3] Ezequiel 37, 3-11
