A Igreja vive da Eucaristia!

Homilia proferida na Casa de Nazaré, 19 de junho de 2025, Solenidade de Corpus Christi

Queridos Irmãos e Irmãs, a solenidade que hoje celebramos está profundamente ligada à quinta-feira santa, que há pouco celebramos. Com efeito, naquela quinta-feira santíssima e bendita recordávamos aquele momento derradeiro da graça e da misericórdia do Senhor que quis dar-Se aos discípulos, quis dar-Se à Sua Igreja, quis dar-Se aos pobres pecadores – cada um de nós – até o fim dos tempos. E não sabendo como dar maior prova de amor ao homem sedento e faminto, doou-Se na Santíssima Eucaristia: Corpo e Sangue de Cristo dados para a vida do mundo, dados para a salvação do homem. E para que Ele pudesse Se fazer presente em nossos altares até o fim do mundo, instituiu também o Sacerdócio.

Portanto, aquele dia era o dia próprio de adorarmos com cânticos, hinos de louvor e profundo júbilo esse augusto Sacramento, fonte e ápice da vida cristã. No entanto, a seriedade do momento não permitia que os cristãos pudessem expressar o louvor alegre e jubiloso devido ao Senhor Eucarístico, pois logo após dar-Se aos Seus, o Senhor vai para o Jardim da Oliveiras para iniciar Sua Paixão.

Justamente por isso a Igreja instituiu esse dia onde todo Orbe cristão cantará louvores ao seu Senhor e Deus e Lhe prestará ato de fé pública: hoje o Santíssimo Sacramento passará por inúmeras ruas do Brasil e do mundo para ser adorado pelos homens.

Como poderíamos agradecer ao bom Deus por tão grande amor manifestado a nós, famintos e sedentos? Não se contentando em alimentar o homem com o maná, o Senhor dá o Seu Corpo precioso em comida e o Seu Sangue precioso em bebida. Ainda que me fosse dado o amor ardente dos Serafins, a Ciência sublime dos Querubins e a reverência profunda dos Santos Tronos, não poderia falar dignamente de tão sublime sacramento.

Ao preparar essa homilia me recordava muito do afresco que se encontra em Roma, no chamado quarto de Rafael, onde é possível contemplar uma pintura intitulada «Disputa Eucarística», onde o Senhor está exposto no altar e temos bispos, padres e doutores da Igreja com seus livros reunidos ao redor de tão sublime sacramento e eles discutem para saber como é possível que o Senhor esteja ali, na espécie eucarística, presente sob o acidente do pão.

Que a Virgem Santíssima, mulher eucarística, me auxilie para que diga algo digno de Nosso Senhor Sacramentado.

O Evangelho que acabamos de ouvir nos apresenta a perícope onde o Senhor está com uma imensa multidão ao redor de Si e Ele a instrui. Ao cair da tarde, os discípulos ficam preocupados com essa multidão e pedem ao Senhor que despesa a todos para que voltem e encontrem comida para não perecerem pelo caminho. O Senhor lhes diz: «Dai-lhes vós mesmos de comer». Ao apelo do Senhor, os discípulos reconhecem que são incapazes de dar-lhes, eles mesmos, de comer. Logo a seguir, temos o relato da multiplicação dos pães, em que todos comem, são saciados, não perecem no deserto e ainda são recolhidos doze cestos dos pedaços que sobraram.

Eis uma dimensão eucarística do Evangelho: diante da incapacidade dos Apóstolos ao apelo do Senhor: «Dai-lhes vós mesmos de comer», o próprio Senhor dá a todos de comer. Aqui o Senhor dá um pão que saciará a todos e ainda haverá sobras. Isso é uma imagem para outro Pão que saciará não somente 5 mil homens, mas a todos os homens até o fim dos tempos, ou seja, o Seu Corpo adorável e o Seu Sangue precioso, alimento para nós, que estamos no deserto de nossas vidas e carecemos de alimento sólido para nossa miséria.

O próprio Senhor realizará, na Santíssima Eucaristia, o que pediu aos discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer» ao dar não apenas um alimento qualquer, mas ao dar-Se a Si mesmo em comida e em bebida. «Minha Carne é verdadeira comida, o Meu Sangue é verdadeira bebida. Se não comerdes a Carne do Filho do homem, não tereis a vida eterna. O Pão que Eu darei é Minha Carne para a vida do mundo!». A perfeita doação exige não somente que seja dado algo exterior, mas algo de si mesmo. Aqui o Senhor realiza isso de forma máxima: dá o Seu Corpo, o Seu Sangue, para que esteja profundamente unido aos Seus discípulos, tão falhos e tão fracos.

Assim também nós: somos falhos, somos fracos, somos pobres, somos necessitados do Senhor. Somos necessitados da Eucaristia! Sem ela não podemos viver. Dizendo isso, me recordo de um pensamento de São Francisco de Sales que diz:

«Se os mundanos te perguntam por que comungas tão frequentemente, dize-lhes que é para aprender a amar a Deus, para purificar-te de tuas imperfeições, para livrar-te de tuas misérias, para consolar-te em tuas aflições e para apoiar-te em tuas fraquezas. Dize-lhes que dois tipos de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos, porque, estando bem dispostos, não teriam razão para não aproximar-se da fonte da perfeição; e os imperfeitos, a fim de poder justamente pretender à perfeição; os fortes, para que não se tornem fracos, e os fracos para que se tornem fortes; os doentes, para serem curados, e os sãos, a fim de que não fiquem doentes; e que, tu, como imperfeita, fraca e doente, tens necessidade de comunicar-te muitas vezes com tua perfeição, tua força e teu médico. Dize-lhes que aqueles que não têm muitos afazeres mundanos devem comungar muitas vezes, porque têm a comodidade de fazê-lo, e aqueles que têm muitas obrigações mundanas, porque têm necessidade de comungar; e que aquele que trabalha muito e que está carregado de penas também deve comer alimentos fortes e muitas vezes. Dize-lhes que recebes o Santo Sacramento para aprender a recebê-lo bem, porque não se faz bem uma ação que não se exerce frequentemente (Introduction à la vie dévote, parte II, cap. XXI, I, 93).»

Que também nós possamos nos aproximar do Senhor, que Se doou a nós para nos fortalecer nesse vale de lágrimas.

Na primeira leitura de terça-feira ouvimos um lindo pensamento de São Paulo que cabe muito bem aqui: «Considerai a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, Se fez pobre, a fim de nos enriquecer com Sua pobreza». Na Santíssima Eucaristia contemplamos essa realidade: Cristo Se despoja de Sua natureza humana para Se fazer um pedaço de pão, uma hóstia simples, pura e pobre. E nessa Sua pobreza, nos enriquece: sem Ele não haveria razão para os sacerdotes subirem diariamente o altar do Senhor; sem Ele as Virgens não poderiam guardar suas promessas; sem Ele os mártires não poderiam realizar a oblação de suas vidas; sem Ele as famílias estariam perdidas, os pais e mães de família não poderiam cumprir sua missão e não poderiam encontrar nenhum consolo; sem Ele a inocência das crianças estaria perdida. Enfim, sem Ele, a Igreja haveria de perecer! Afinal de contas, como dizia São João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia! A Igreja vive da Eucaristia!

Queridos Irmãos e Irmãs, quereis destruir a Igreja? – Começai por tratar a Eucaristia de qualquer modo e perdei o respeito e a reverência para com o Senhor.

Quereis perder vossas almas? –  Afastai-vos da Eucaristia e estareis perdidos, e eternamente perdidos.

Quereis ser grandes santos? – começai a receber Jesus com frequência, com respeito, com reverência. Fazei adoração eucarística. Visitai o Senhor muitas vezes e sereis grandes santos. É a Eucaristia que faz os Santos.

Tenhamos essa certeza: a Igreja será salva pela Eucaristia. Sairemos da crise em que nos encontramos quando Cristo Eucarístico se tornar novamente o centro de nossas famílias, de nossa vida, de nossa sociedade e mesmo da Igreja, pois hoje corre-se o risco de colocar o homem e ideologias no centro da Igreja.

Pensai bem: nunca tivemos tantas Missas como hoje, mas também nunca tivemos tantas profanações, tanta irreverência e ofensas para com Nosso Senhor Sacramentado. E o que é mais lamentável: mesmo entre sacerdotes e religiosos.

Amados irmãos, a Igreja vive da Eucaristia. Seremos salvos ela Eucaristia.

Que nos lares cristãos se volte a escutar com voz viva e vibrante:

«Que o Santo Sacramento, que é o próprio Cristo Jesus,

Seja adorado e seja amado nessa terra de Santa Cruz!».

Amém.

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