Olvido do que é criado,
memória do Criador
atenção ao interior
e estar amando o Amado.
– S. João da Cruz.
A meta de nossa vida cristã é crescer na caridade, o amor que nos une a DEUS, dando a capacidade de amá-lo sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor a DEUS. Esse amor é como a permanência do ramo na Videira – uma atenção amorosa e cheia de solicitude por DEUS e por sua vontade.
Li alhures que Josef Piper diz que amar é como dizer: que bom que você existe, que maravilha que você está no mundo! Amar a DEUS e ao próximo assume então essa atitude de respeito diante de sua existência, maravilhamento e satisfação pela sua presença. Vai além, porém, impondo-nos a obrigação de querer e realizar o bem para o outro.
“Amando o Amado” seria, do meu ponto de vista, estar constantemente feliz com a Existência – que é possibilidade de todas as outras existências -, como que se alegrando pela Vida Divina e pela eterna beatitude de DEUS. Mas, além disso: querendo devolver-LHE o ser que recebemos DELE; o agir, que só acontece NELE e por ELE; e também o padecer. Esse “devolver”, que é um sacrifício, uma oblação, um culto, é feito com tanto mais prontidão, simplicidade e alegria quanto mais caridade há no coração.
Mas: como alcançar isso?
“Atenção ao interior”. É preciso dar atenção ao mundo interior, isto é, a tudo que se passa dentro de cada um de nós. Uma multidão de criaturas demandam nossa atenção a cada instante. Dificilmente, a imaginação e a sensibilidade dão tréguas. É uma verdadeira guerra o que se passa no interior da maioria de nós. Estar atento é o primeiro passo para não ser controlado, conduzido e dominado pela sensibilidade e pela imaginação. É preciso que a razão e seu apetite (a vontade) ponham freios nessas duas outras.
Depois é preciso esquecer o “que é criado”. E aqui entra um palavrinha que causa arrepios nos ouvidos modernos: mortificação. É uma condição sine qua non para amar a DEUS. Não é possível amá-lo e não mortificar os sentidos, a imaginação e a vontade. Tudo o que a imaginação apresenta entrou em primeiro lugar pelos sentidos. Ela cria ou reproduz imagens do que foi experimentado e seduz a vontade para querer se unir a todas essas coisas; isso impede a união com o Criador de todas essas coisas.
É necessário então não olhar, não ouvir, não tocar, não provar, e não querer olhar, ouvir, tocar, provar… Não divagar com a imaginação. Em uma frase: não se dar aquilo que se quer sem razão e não evitar aquilo que se quer evitar sem razão. Alguns exemplos para entender melhor: Muitas vezes, a curiosidade nos convida (ou quase obriga) a olhar coisas más ou inúteis ou, no mínimo, que não nos dizem respeito. Mortificar-se nesse caso seria negar esse convite. Dizer: não. Quem não se nega a si mesmo não é discípulo de JESUS.
Mais difícil talvez seja negar os pensamentos voláteis que povoam nossa imaginação. Para isso não conheço outra cura que a “memória do Criador”. João Cassiano ensina a repetir continuamente o verso “Vinde, ó, DEUS, em meu auxílio, socorrei-me sem demora”; o Peregrino Russo e a tradição filocálica: “Senhor JESUS CRISTO, tende piedade de mim pecador!”; JESUS ensinou a Irmã Consolata Beltrone (1903 – 1946), religiosa capuchinha italiana, a repetir sempre, desde o acordar até o adormecer: “JESUS e MARIA, amo-VOS, salvai almas”. São todos meios de converter-se das criaturas, que demandam nossa atenção e nosso amor, a DEUS que é digno de toda a nossa atenção e amor. Essa oração constante deve virar uma segunda natureza em nós, quer dizer, um hábito.
É um trabalho constante que não admite férias nem mesmo feriados. Para os religiosos, tender à perfeição é uma OBRIGAÇÃO; para todos os batizados, afinal, é um privilégio… um convite do Coração de JESUS!
“A única tristeza que existe é a de não ser santo!” – Leon Bloy.