No Livro do Êxodo, vemos que Deus ordena obediência ao Anjo como portador da autoridade de Deus:
“Eis que envio meu Anjo adiante de ti para te guardar no caminho e para te conduzir ao lugar que preparei. Sê-lhe submisso e ouve a sua voz; não lhe sejas rebelde, porque ele não perdoará as vossas transgressões, pois o meu nome está nele. Se lhe deres ouvidos e fizeres tudo o que te disser, serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários. E meu Anjo irá adiante de ti” (Ex 23:20-23).
Comentando sobre este texto, a mãe Gabriele escreve:
Se Deus fala dessa maneira, então… É uma prova de Sua confiança no Anjo, a quem Ele nomeou para nos guardar e admoestar, e para preparar o caminho para nós… e a quem Ele claramente nos apresenta como portador de Sua autoridade… É uma prova de que o Anjo está dotado de maiores poderes intelectuais, capacidades e autoridade, porque Deus o colocou acima do homem e ordena ao homem que ouça o Anjo, pois “meu nome está nele” (a autoridade de Deus)… É uma prova de que Deus inter-relacionou os Anjos e os homens, para que possam lutar juntos contra os inimigos de Deus. É uma prova da ajuda efetiva dos Santos Anjos em todo o domínio da raça humana, por sua atividade de admoestação, ensino, cuidado e luta. (Nosso Anjo da Guarda, pp. 1-2)
Com a autoridade de Deus, a consciência não apenas nos dá luz sobre o que é bom e mau, certo e errado, mas também comanda nossa obediência. O caminho para a santidade passa apenas pela obediência a Deus e à Sua vontade para nós. Se formos fiéis às luzes e graças que Deus nos dá por meio da consciência e do Santo Anjo, Ele nos conduzirá à perfeição e bem-aventurança para a qual somos chamados. O Cardeal Newman escreve: “Viver é mudar, e ser perfeito é ter mudado muitas vezes”. Ser um discípulo é seguir Cristo de acordo com as luzes que Ele nos dá e permitir que Ele nos transforme em Sua própria imagem. Essa transformação implica uma jornada espiritual na qual podemos avançar de luz em luz, de verdade em percepções cada vez maiores da verdade.
Aja de acordo com a sua luz [de consciência], mesmo no meio de dificuldades, e você será conduzido, não sabe até onde… Se seguirmos a voz de Deus, seremos levados passo a passo a um novo mundo, do qual antes não tínhamos ideia. Este é o Seu caminho gracioso conosco: Ele dá, não de uma vez, mas medida e estação a estação, com sabedoria. “A quem tem, mais lhe será dado”. Mas devemos começar desde o início. Cada verdade tem sua própria ordem; não podemos entrar no caminho da vida em qualquer ponto do curso que desejarmos; não podemos aprender verdades avançadas antes de aprender as fundamentais. (Sermões Paroquiais e Simples vol. VIII 13)
No entanto, se não obedecermos às luzes do Anjo e da consciência, até mesmo a luz que tínhamos será perdida.
Homens religiosos estão sempre aprendendo; mas quando os homens se recusam a lucrar com a luz já concedida, sua luz se transforma em escuridão. Observem o comportamento de Nosso Senhor com os fariseus. Eles lhe perguntaram com que autoridade Ele agia. Ele não deu uma resposta direta, mas os remeteu à missão de João Batista – “O batismo de João, de onde veio? do céu ou dos homens?” Eles se recusaram a responder. Então Ele disse: “Nem eu lhes digo com que autoridade faço estas coisas.” Ou seja, eles não lucrariam com o conhecimento que já tinham de João Batista, que falava de Cristo – portanto, nenhuma outra [luz] lhes foi dada. (ibid.)
Além disso, devemos obedecer à nossa consciência prontamente e com confiança, negando nossas inclinações egoístas, caso contrário, encontraremos mil desculpas e justificações para seguir o que realmente é apenas nossa própria vontade. Mesmo que nos arrependamos posteriormente e busquemos novamente a verdade, pode ser tarde demais, como explica São João Newman:
No início, nossa consciência nos diz, de maneira simples e direta, o que é certo e errado. Mas quando brincamos com esse aviso, nossa razão se perverte e vem em auxílio de nossos desejos, nos enganando até nossa ruína. Começamos a descobrir que existem argumentos disponíveis em favor de más ações, e os ouvimos até começarmos a acreditar que são verdadeiros; e então, se por acaso pensamentos melhores retornam e fazemos algum esforço fraco para chegar à verdade realmente e sinceramente, descobrimos que nossas mentes já estão tão confusas naquela época que não sabemos o que é certo e errado. (ibid.)
Portanto, para aprender a obediência à consciência, devemos purificar nosso coração e nossa vontade, buscando sinceramente apenas o que é bom e verdadeiro, a vontade de Deus para nós.
