Ao olhar para o Lado aberto de Cristo, “adormecido na Cruz”, nos vem a lembrança de um outro lado, que o próprio dedo de Deus abriu: foi o de Adão no paraíso. O Gênesis nos conta: “Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem” (Gn 2, 21-22). O Cristo na Cruz nos revela o sentido profundo deste ato Divino no início da criação. Segundo o Antigo Testamento, parece que Deus abriu o lado de Adão somente para formar a partir da costela, a mulher. Mas contemplando mais profundamente neste fato, considerando também o Lado aberto de Jesus, notamos que houve mais uma razão. Porque como todas as criaturas, também Adão, e sobretudo ele, foi criado em vista de Cristo. Portanto, quando Deus abriu o lado de Adão, Ele o configurou com Cristo Crucificado. Adão precisava ter um lado aberto, para poder ser uma prefigura de Cristo, para ser mais parecido com aquele “Modelo”, conforme o qual ele foi modelado.
Há um antigo texto que a Igreja lê no Ofício das Leituras no Sábado Santo. O autor fala que Cristo, após ter morrido, foi ao encontro de Adão e o acordou. E entre outras coisas lhe diz: “Adormeci na Cruz e por tua causa a lança penetrou no Meu Lado como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu Lado curou a dor do teu lado”. Isto quer dizer também que o Lado aberto de Cristo deu o último sentido ao lado aberto de Adão, assim é também um modelo para nós. Poderíamos dizer que agradam a Deus corações abertos. Precisamos pensar somente em Maria Santíssima, a criatura mais amada por Deus; Ela recebeu bem cedo a profecia de que uma espada transpassará a sua alma, a arte a representa muitas vezes até com sete espadas, referindo-se às suas sete dores principais.
