Os três silêncios que ecoam até o céu

Quaresma, um tempo de graças abundantes para o mundo inteiro. Neste tempo, a Igreja nos chama à prática de três obras quaresmais para participar melhor, e com fruto, desse “tempo favorável[1]”. São elas: a esmola, o jejum e a oração.

No Evangelho do dia da Quarta-Feira de Cinzas (Mt 6, 1-6;16-18), Jesus explica cada uma delas e, em suma, deixa entender que a prática dessas obras deve ser às escondidas, de modo que “somente o Pai veja o que está no escondido… e Ele nos dará a recompensa” (Mt 6, 18). Pede para que as pratiquemos de modo que os homens não as percebam, caso contrário “já receberíamos a nossa recompensa” (Mt 6, 2;5;16). Ele pede para que sejamos silenciosos.

De fato, a virtude do silêncio possui uma amplitude de compreensão e uma densidade de modos de vivê-la que não se limitam apenas a não emissão de sons. O silêncio santo é a atitude que leva todas as virtudes à sua perfeição, pois é uma graça de perfeição[2]. Toda virtude quando atinge o seu cume, está imbuída de silêncio. Por isso Jesus pede discrição ao fazermos penitência, pois quer que a façamos com máxima perfeição, a fim de sermos agradáveis a Deus.

Ao pedir os três meios de penitência quaresmais, Jesus pede

na prática da esmola o silêncio da vontade,
na prática do jejum o silêncio dos sentidos e
na prática da oração o silêncio da mente.

 Silêncio da Vontade

Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita” (Mt 6, 3), de outra forma pode-se dizer “tu, porém quando praticares a caridade, pratique-a em silêncio”. A prática da caridade se ressume em amar e ser, nós mesmos, causa instrumental desse amor, em doação total ao outro, pois “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). A doação total de si – não parcial, aquela que deixa sempre migalhas para o EU – é a mais difícil, pois renuncia-se a própria vontade, a própria maneira de pensar, onde a única vontade que prevalece na alma é aquela que o próprio Jesus exclamou: “não seja feita a minha vontade, mas a tua!”” (Lc 22, 42). A esmola é, portanto, aquela atitude que deve brotar da nossa vontade de dar o que é meu ao outro.

Silêncio dos Sentidos

Quando jejuardes, não fiqueis de rosto triste como os hipócritas” (Mt 6, 16), do mesmo modo pode-se dizer: “Quando renunciares a vos mesmos, fazei que o sofrimento seja silenciado pela vossa alegria”. Os sentidos nos foram dados para apreciarmos e gozarmos das maravilhas de Deus, mas com o pecado se tornaram objeto direto de egoísmo, onde muito se busca a satisfação pessoal, vinda de si para si. O silêncio dos sentidos é a renúncia dos prazeres voluntários e involuntários. De modo concreto, é andar no sentido contrário dos sentidos, ou seja, deixar de ver aquilo que com frequência se vê por diversão e buscar ver aquilo que sendo bom, não causa tanta satisfação, como ler uma boa literatura, estudar mais, ler a sagrada escritura etc., não comer aquilo que costuma comer com frequência e até comer aquilo que não é agradável ao paladar. Deixar de querer ouvir aquilo que gostaria de ouvir dos outros, dos familiares e amigos, pois o próprio Cristo não ouviu apenas verdades a seu respeito, mas sim calúnias.

Silêncio da Mente

Tu, porém, quando orares, entra em teu quarto, fecha a porta e ora ao teu pai que está no escondido”. Do mesmo modo pode-se dizer: “quando orares entra em ti mesmo, fecha a porta para os pensamentos vãos e ora a teu Pai em segredo”. A oração deve ser feita com o coração, mas muitas vezes nossa mente impede que isto aconteça. De fato, o silêncio da mente é fundamental para que o coração se volte para Deus na oração, tornando-se assim uma oração agradável. Contudo, silenciar os pensamentos involuntários e até mesmo os voluntários exige uma grande força de vontade, confiança na graça e paciência. Aqui ajudam-nos os coros do círculo da Adoração contínua de Deus: os Serafins, Querubins e Tronos. Chamá-los para a oração tem grande efeito para podermos nos concentrar melhor no diálogo com Deus.

Na prática desse silêncio da mente, é muito útil o silêncio dos lábios, pois quando muito se fala, pouco consegue escutar e tampouco consegue rezar. De tal modo é a influência de uma pessoa que fala demais na sua vida de oração, que mesmo quando consegue ficar sem falar, a dificuldade para controlar o que pensa é enorme. Nesse momento devemos ser pacientes, ter força de vontade e confiar na graça. No silêncio da mente o coração se torna livre para entrar em diálogo com Àquele que o criou.

Quando conseguirmos praticar essas três atitudes quaresmais com perfeição, isto é, silenciosamente, escondidos aos olhos do mundo, haverá grande júbilo no céu, pois, esse escondimento da alma terá tanta força que alcançará o trono de Deus. Esses três silêncios ecoarão de tal modo do interior da alma até o interior de Deus que os Santos Anjos virão apressadamente em auxílio do homem para ajudá-lo a estar mais próximo de Deus, e Deus mesmo se fará mais próximo da alma, não porque Ele antes não o quisera, mas porque agora a alma se torna ampla para acolher a Deus e assim ser UM com Ele.

 

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[1] Hino do oficio das leituras do tempo da Quaresma: Agora é tempo favorável, divino dom da Providência, para curar o mundo enfermo com um remédio, a penitência.

[2] GabrieleBitterlich, carta aos Irmãos e Irmãs em 20.01.1952: “E o santo silêncio não é somente um agir diante de DEUS, mas um ser diante de DEUS; é uma graça da perfeição, uma graça do ESPÍRITO SANTO.”

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